A Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra é uma grande ilha arenosa localizada a Sul das cidades de Olhão e Faro, em Portugal. A ilha faz parte do Parque Natural da Ria Formosa e por isso tem de seguir regras específicas para o seu desenvolvimento. Não há estradas pavimentadas na Culatra – assim que chegar à ilha de ferry, vai conhecê-la a pé. A ilha tem cerca de 6 quilómetros de extensão e a sua largura varia entre os 100 e os 900 metros. Os seus cerca de 1000 habitantes vivem principalmente da pesca e da Aquicultura. Se quiser experimentar o estilo de vida tradicional dos pescadores portugueses, este é o lugar para estar. Você vai encontrar pequenas casas de pescadores idílicas por toda a ilha. A principal atracão da Culatra, no entanto, é a sua extensa praia de areia branca que se estende desde o Oeste até ao Este da ilha, considerada uma das mais belas praias do Algarve.

A História

O núcleo habitacional da Ilha da Culatra, teve origem na movimentação sazonal de pessoas que acorriam ao Cabo de Stª Maria para trabalhar nas armações de sardinha, desde o século XVI. Pela abundância de peixe e marisco e a amenidade das águas da ria Formosa algumas famílias decidiram fixar-se, construindo habitações provisórias. Após estas primeiras fixações, gerou-se um movimento crescente de radicação populacional, o que implicou a multiplicação progressiva das construções. Devido ao isolamento territorial, foi por demais acentuado o isolamento social, sendo a comunidade preservada de toda a evolução do melhoramento das condições de vida que ao longo dos tempos iam sendo criadas tanto pela Administração Central e Local. Perante estas condicionantes foi inevitável a necessidade da criação de um porta voz reivindicativo e participativo perante as Entidades Publicas com vista à resolução das necessidades básicas, eletricidade, água potável, saneamento, educação, saúde, urbanismo, etc. É neste contexto que é criada a Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC) em 16 de Novembro de 1987. Desde então a Comunidade residente bem como o núcleo habitacional foram sendo dotados de infraestruturas e apoios de vida, que perpetuarão a vida social e económica das cerca de mil pessoas, destacando-se importantes estruturas de apoio social, ao nível do ensino, saúde, assistência e religião, destacando-se uma Capela, a Escola do Ensino Básico, Centro Social com diferentes valências, a Extensão do Centro de Saúde, a Delegação da Junta de Freguesia da Sé de Faro, o  Pólo da Cruz Vermelha, possuindo todo o núcleo distribuição de agua potável, saneamento e energia elétrica, bem como um Porto de Abrigo para a pequena pesca.

A AMIC ao longo da sua existência, pela congregação de esforços e trabalho em prol da Comunidade, conseguiu como resultados objetivos e identificáveis: (i) melhores condições de vida da Comunidade em particular da comunidade piscatória, mariscadora e viveirista; (ii) a instalação de infraestruturas, culturais, desportivas e sociais para a Comunidade; (iii) a valorização da imagem da Culatra, suas gentes e seus recursos; (iv) a preservação da identidade da Comunidade; (v) o desenvolvimento da cidadania; (vi) a promoção pessoal dos habitantes, culturalmente, civicamente e profissionalmente; (vii) o associativismo, sobre todas os vertentes, cultura, desporto, produção, tendo como alvo prioritário os jovens para uma atitude ativa, participativa, consciente e construtiva do cidadão no seio da comunidade; e (viii) promoveu, organizou ou difundiu iniciativas de ordem social, cultural, religiosa e desportiva  que contribuíram para a coesão e engrandecimento da Comunidade.

 

O esforço conjunto de resiliência desta comunidade resultou no desenvolvimento económico da população, e aumentou a capacidade de preservação e proteção do frágil ambiente onde vivem e trabalham. Diversas ações foram implementadas como atividades científicas e pedagógicas com o objetivo de preservar os recursos naturais como fator de sustentabilidade e desenvolvimento, a proteção e divulgação do património cultural e histórico e, sobretudo, a promoção e defesa de cidadania. Recentemente, e reconhecendo o trabalho desta comunidade, o Governo Nacional concedeu um estatuto legal para esta ocupar o Domínio Público Marítimo. O que significa que os habitantes receberão concessões de uso da terra nos próximos 30 anos e poderão legalizar as suas moradias. Essas concessões podem ser renovadas se a família comprovar a sua continuidade de vínculo com as atividades pesqueiras, fator primordial para a defesa da sua identidade.

Sistema Energético

Desde 1998, a energia da ilha da Culatra é fornecida por um cabo elétrico que liga a rede elétrica nacional à rede de distribuição da ilha. No entanto, o cabo está obsoleto, acarretando o risco de interrupções de fornecimento de energia durante o ano. Como consequência, foi instalado um gerador a diesel como medida preventiva. O núcleo habitacional da Culatra tem sido foco de alguns projetos da antiga EDP Distribuição, agora E-Redes, que resultaram que 316 das casas estejam atualmente ligadas à rede elétrica e tenham contador inteligente instalado.

Resultante de candidaturas no âmbito da iniciativa Culatra 2030, o núcleo habitacional da Culatra conta neste momento com uma instalação fotovoltaica de 60 kWp e de 46 kWh de baterias Lítio, estando previstas para breve a instalação de mais 30 kWp de geração fotovoltaica, totalizando assim 90 kWp instalados. Estas instalações permitiram uma geração descentralizada a partir de várias Unidades de Produção para Autoconsumo (UPACs), localizadas em distintos pontos da rede de baixa tensão do núcleo habitacional da Culatra. Sem a constituição de uma Comunidade de Energia Renovável (CER), não é possível distribuir a energia pela comunidade e a geração é injetada na rede sem vantagens económicas para os habitantes da ilha.

 

Para além da capacidade instalada, a iniciativa Culatra 2030, através do projeto “Descarbonização da Atividade de Aquicultura (cofinanciado pelo MAR2020), possibilitou o desenvolvimento tecnológico de um barco solar para os viveiristas da ilha, construído em parceria com a Sunconcept. Cada barco conta com um conjunto de painéis fotovoltaicos que alimentam uma bateria de 17,5 kWh. Foi também financiado um ponto de conexão à rede elétrica na zona dos apoios de pesca, permitindo a interação com a restante instalação fotovoltaica. Todo o sistema foi projetado para que possa existir monitorização de geração e controlo remoto, integrando-se assim com um sistema de gestão de energia projetado e em fase de desenvolvimento na Universidade do Algarve.

Comunidade de Energia Renovável

O Projeto Piloto de Comunidade de Energia Renovável (CER) na Ilha da Culatra visa testar a viabilidade técnica e económica de uma CER, permitindo a inclusão de tecnologias inovadoras, com resultados que possam repercutir-se em propostas de desenvolvimento legal e regulamentar.  O âmbito do Projeto Piloto de Comunidade de Energia Renovável na Ilha da Culatra inclui investigação e demonstração, permitindo promover a inovação no setor das CER. Usando equipamentos e estruturas já existentes, a CER da Ilha da Culatra permitirá suportar atividades de investigação que permitam:

  • implementar novas formas de gestão de consumo, que passem pela integração de sistemas de gestão de energia, e que permitam controlar o consumo de equipamentos dos membros da CER, integrando previsão de procura e de geração renováveis, tendo em consideração as limitações da rede elétrica existente;
  • implementar um modelo de economia participativa, que permita a distribuição de custos e proveitos da geração renovável, e que suporte o envolvimento da comunidade, o investimento em novos equipamentos e o seu funcionamento num horizonte temporário de décadas;

implementar um sistema inteligente de carregamento de barcos elétricos, capaz de controlar os carregamentos dos mesmo em função da geração, respeitando as preferências dos utilizadores e maximizando a energia autoconsumida.